Data desta versão: 25 de Junho de 2000
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
NOVA FORUM
Curso de Pós-graduação em Mercados, Instituições e Instrumentos Financeiros
Primavera 2000
Globalização Financeira e o Euro
Prof. Jorge Braga de Macedo

Abordagem

Este curso aborda  os efeitos da globalização financeira numa economia nacional inserida na zona do euro, como é a economia portuguesa. Esses efeitos resultam da aplicação da teoria do ajustamento internacional a um caso concreto determinado quer pelo sistema vigente de trocas e pagamentos internacionais quer pelas políticas nacionais. Por isso se começa por apresentar resultados da macroeconomia de economia aberta com vários regimes cambiais, nomeadamente a abordagem monetária da balança de pagamentos e da taxa de câmbio (28 Abril). Segue-se a 29 de Abril um escorço do debate sobre a arquitectura financeira internacional e os efeitos da contestação às instituições existentes, nomeadamente as ditas de Bretton-Woods (FMI e Banco Mundial) e a Organização Mundial do Comércio (WTO, sucessora do GATT ou Acordo Geral sobre Pautas e Comércio).
Passa-se a 2 e 3 de Junho depois para a geografia e história do sistema e das políticas, nomeadamente da política orçamental, monetária e cambial, privilegiando a realidade nacional e lusófona, tocando sobretudo Brasil. A 23 de Junho discute-se o papel do euro no sistema monetário internacional.
Objectivos
O meu ensino de temas económicos e financeiros visa atingir três objectivos complementares, cujo peso relativo varia consoante as diversas formações profissionais dos destinatários.

1. O  primeiro  objectivo é resolver modelos simples de determinação do rendimento agregado e do mecanismo de transmissão monetária e avaliar o efeito quantitativo de políticas alternativas. Este objectivo, que supõe uma capacidade de avaliar o efeito quantitativo de políticas orçamentais, monetárias e cambiais alternativas no produto interno bruto (pib) e no seu preço, bem como na criação de emprego no curto prazo. Estes efeitos devem ser consistentes com a criação de condições para a acumulação de capital, físico e humano, de modo a permitir um desenvolvimento sustentado na economia global.
Embora este objectivo analítico não seja prioritário aqui, permite que se introduza a "macroeconomia para as pessoas" no que toca aos dois outros objectivos, respectivamente as regras de política e a interdependência internacional.
É que a tensão entre mercados globais e cidadanias locais, cuja incompreensão pode afastar as pessoas da macroeconomia, assenta em dois pressupostos, cuja compreensão representa outros tantos objectivos do curso. Primeiro, como não há actividade empresarial sustentada com ameaças à propriedade privada das pessoas, no presente ou no futuro, esta deve ser garantida através de medidas tão próximas quanto possível do cidadão. Segundo, as pessoas esperam não só o respeito dos seus direitos e garantias fundamentais mas também a liberdade de circulação de bens, serviços ou activos financeiros.

2. O segundo objectivo é pois conhecer as regras e instituições orçamental, monetária e cambial correntes nas democracias nacionais avançadas  e os mecanismos de coordenação externa das políticas. Mostra-se como a actividade económica nacional e internacional nas democracias avançadas se enquadra num conjunto de regras e procedimentos que reflectem não só valores e princípios económicos mas também éticos e políticos. São regras que reflectem valores e princípios económicos mas cuja compreensão não exige formação económica anterior.
Alguns destes valores resultam da carta das Nações Unidas mas como a ex-URSS acabou por não participar nas organizações financeiras internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, com sede em Washington, DC, nem no GATT, hoje Organização Mundial do Comércio, com sede em Genebra, verificou-se desde cedo uma divergência entre as organizações político-diplomáticas e as económico-financeiras.
A combinação dos valores e princípios económicos com os éticos e políticos é considerada própria dos países industrializados da  área da OCDE, organização fundada em 1948 em Paris. Dentro dos países industrializados sobressaem os sete maiores, o chamado G-7, que reúne Estados Unidos (EU), Canadá, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Itália, além do presidente da Comissão Europeia e, mais recentemente, da Rússia. O G-7 funciona como um directório da arquitectura financeira internacional, ao qual se juntam  Bélgica, Holanda, Suécia e Suiça no chamado G-10.
A área da OCDE também se chama a área trilateral, por incluir três polos de desenvolvimento e democracia mundiais, a América do Norte, o Japão e a União Europeia (UE).
Entre os membros da UE conta-se  Portugal, e o lado europeu também incluí alguns países do centro e leste em transição e candidatos à adesão.
Os valores e princípios trilaterais têm alastrado para os mercados emergentes a Sul (México, Coreia, já membros da OCDE; India, Brasil, África do Sul) e para Leste (Rússia, oitavo membro do G7, talvez China). Argentina e Brasil já são membros do Centro de Desenvolvimento da OCDE
Pouco antes da crise financeira dos mercados emergentes,  os bancos centrais destes cinco grandes países tornaram-se, com os de Singapura e da Arábia Saudita, membros do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), organização fundada em 1930 em Basileia que começou por reunir os bancos centrais do G-10 e de outras pequenas economias europeias (incluíndo ex-Jugoslávia e Bálticos)., Criou-se depois um forum próprio, o G20.
Espera-se que os países africanos lusófonos também venham a beneficiar destes valores, como aliás prevê a Declaração constitutiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização fundada em 1996 em Lisboa.

3. O terceiro dos objectivos complementares, perceber como o comércio e as finanças internacionais afectam o equilíbrio conjuntural das economias abertas e a prosperidade dos povos, projecta os modelos e as regras à escala global, para tentar encontrar as condições da convergência entre economias avançadas e emergentes.
Em tempos normais, as condições resultam mais das políticas do que dos recursos. Contudo, os mercados financeiros internacionais passam por períodos turbulentos que podem penalizar o processo de convergência global das políticas.
Assim, as actuais dificuldades financeiras afectaram os mercados emergentes e o Japão mais do que EU e UE. A compreensão da chamada crise financeira internacional e dos modos de a resolver ajuda a entender se e como será possível retomar o processo de convergência internacional de políticas interrompido em meados de 1997.
Apesar da referida difusão das regras de política da OECD para Sul e para Leste, continua a haver grande tendencia para considerar as diferenças culturais impeditivas de uma boa política económica à escala mundial. A África é talvez a mais atingida com essa atitude negativa, embora a América Latina não costume andar longe. Curiosamente os "valores asiáticos" eram considerados mais apropriados, pelo menos até que crises financeiras nos "tigres asiáticos" em 1997 (e ameaças de contágio à própria bolsa americana no ano seguinte) tenham sugerido que os problemas afinais são gerais. O falhanço da ronda de Seattle da WTO, planeada para o Outono de 1999, tornou espectaculares as resistências contra a globalização. Também por isso o programa do curso atende à geografia e à história dos mercados.

Páginas e livros úteis

Exame e leituras obrigatórias

O exame, marcado para 10 de Julho, consta de 6 à escolha entre 9 das perguntas curtas  e de 2 à  escolha entre 4 das perguntas de desenvolvimento dentro da matéria leccionada (podendo incluir as leituras facultativas, precedidas dos símbolos  # ou &), com pesos iguais.
A grande maioria das leituras obrigatórias encontra-se em

  • Bem Comum dos Portugueses, Lisboa: Vega, 1999, 2ª edição (abreviado em Bem ver prof.fe.unl.pt/~jbmacedo) e em
  • The accidental theorist, de Paul Krugman, New York: Norton, 1998 (abreviado em Acidental ver ww.mit.edu/~krugman e Krugman).

  • Outras leituras úteis:
  • Entrevista a Robert Mundell Público 19 Junho 2000
  • Piloted by a new ruling class FT 27/28 Maio 2000
  • A reluctant lesson from Argentina that Keynes was right Trib 5 Junho 2000
  • Apresentação de Guillermo Calvo

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    Programa do curso e leituras

    NOTAS:
  • AS REFERÊNCIAS SEM NOME DE AUTOR SÃO AOS MEUS TRABALHOS, INCLUÍNDO OS CASOS DE CO-AUTORIA.

  • As leituras precedidas de # são mais técnicas. Tal como as precedidas de &, o seu conhecimento não é exigível para efeitos de exame.

    1. Macroeconomia e ajustamento internacional (28 Abril)
    *Paul Krugman, "The Baby sitting economy", The Dismal Science (ou "Four Percent Follies", Acidental, pp.105-115).
    Avelino Crespo, Empresas e Emprego na Moeda Única, Lisboa: Edições Sílabo, 1997, "Introdução: Macroeconomia para as pessoas", pp. 9-29.
    Paul Krugman, "Size does matter - in defense of macroeconomics", The Dismal Science
    Peter Pugh & Chris Garratt, Keynes for Beginners, Icon Books, 1996.
    &Paul Krugman, "Why I am an economist (sigh)"
    #Richard Levich, International Financial Markets: Prices and Policies, McGraw Hill, 1998
    #John Williamson, The Open Economy and the World Economy, New York: Basic Books, 1983
    #"De Chicago ao FMI: A Abordagem Monetária da Balança de Pagamentos", Economia II (3), Janeiro 1978.
    #"Exchange Rates and the International Adjustment Process", Brookings Papers on Economic Activity, Setembro 1978.
    &Interdependência Económica, Sistema Monetário Internacional e Integração Portuguesa, Lisboa, Banco de Fomento Nacional, 1977.
    &Paul Krugman, "Vulgar Keynesians", Acidental, pp.28-33.
    &Paul Krugman, "Unmitigated Gauls: Liberté, Egalité, Inanité", Acidental, pp.34-38.
    &Paul Krugman, "A Good Word for Inflation", Acidental, pp.116-122.
    &Paul Krugman, "Supply-Side's Silly Season", Acidental, pp.47-51.
    &Paul Krugman, "An Unequal Exchange", Acidental, pp.52-61.
    &Paul Krugman, "The Lost Fig Leaf: Why the Conservative Revolution Failed", Acidental, pp.62-65.
    &Robert Barro, "George Stigler and the Chicago School", Getting it Right, MIT Press, 1996, pp.164-167.
    &Robert Barro, "A Nobel Prize for Bob Lucas", Getting it Right, pp.18-171.

    2. A globalização e os seus detractores (29 Abril)
    * Bem Comum dos Portugueses, parte II Pertenças presentes especialmente pags.199-216.
    *Paul Krugman, "In Praise of Cheap Labor. Bad Jobs at Bad Wages are Better than No Jobs at All", The Accidental Theorist, pp.80-86.
    Moses Naim, "Lori’s war", Entrevista a Lori Wallach, Foreign Policy, Primavera 2000
    Joseph Stiglitz, "The insider", The New Republic online, Abril 2000
    Bem Comum dos Portugueses, pags.21-34, 217-246.
    &Flexible Integration Towards a more effective and democratic Europe, Londres: Center for Economic Policy Research (CEPR), 1995.
    &Paul Krugman, "We are Not the World", The Accidental Theorist, pp.75-79.
    &Paul Krugman, "Economic Culture Wars", The Dismal Science
    &Paul Krugman, "The CPI and the Rat Race", The Accidental Theorist, pp.191-195.
    &Paul Krugman, "Rat Democracy", The Accidental Theorist, pp.179-183.
    &Paul Krugman, "No pain no gain", The Dismal Science
    &Paul Krugman, "Who's Buying Whom? ", The Dismal Science
    &Mercado monetário e de valores mobiliários: Relações de dependência à escala mundial

    3. Experiencia portuguesa: o real e o colapso do padrão-ouro (2 Junho)
    *Bem Comum dos Portugueses, Parte I "Manifesto histórico" especialmente pags.112-166.
    Bem Comum dos Portugueses, pags.21-34, 217-246.
    "Do real ao euro, passando pelo escudo", Memórias da Academia das Ciências, a saír
    "War, taxes and gold: the inheritance of the real", The legacy of Western European Fiscal and Monetary Institutions for the New World: XVII-XIX century, organizado por Michael Bordo e Roberto Cortes-Conde, a saír.
    &"Economia, ética e implicações de política" Estudos em Homenagem a Jorge Borges de Macedo, Lisboa: INIC, 1992 (resumo em Ethics)
    &"Europa e Lusofonia, Política e Financeira: Uma Interpretação", Ensaios de Homenagem a Manuel Jacinto Nunes, Lisboa: Instituto Superior de Economia e Gestão, 1996, pp. 53-72.
    #Convertibilidade Cambial: Conferencia Comemorativa do 140º Aniversário da Adesão de Portugal ao Padrão-Ouro, Lisboa: Banco de Portugal, 1995.

    4. Experiencia portuguesa: a transição para o padrão-euro (3 Junho)
    * Bem Comum dos Portugueses, Parte II Liberdades futuras especialmente pags.290-307
    Portugal's European Integration: the limits of external pressure, Nova Economics Working Paper nº 369, Dezembro 1999.
    &Portugal, Democracy, Decentralisation and Deficits in Latin America, organizado por Kiichiro Fukasaku e Ricardo Hausmann, Paris: OECD Development Centre e Inter-American Development Bank, 1998, pp 191-200.
    Bem Comum dos Portugueses, pags.247-289.
    &Brasil-Portugal e a globalização: riscos e oportunidades, a saír nas actas do congresso Brasil-Portugal ano 2000 sessão de economia, Setembro 1999.
    &"Mercados Financeiros Internacionais e Cidadania Nacional", Direito dos Valores Mobiliários, Lisboa: Lex, 1997, pp.15-25.
    &Liberdades Futuras dos Portugueses, Nova Economics Working Paper nº 349, Abril 1999.
    &"Memória de um Acompanhamento Desconhecido", A Revisão do Tratado da União Europeia, Coimbra: Livraria Almedina 1996, pp. 185-189.
    #Moving the escudo into the euro, CEPR Discussion Paper nº 2248, Outubro de 1999.
    # "Generational Accounting in Portugal" Generational Accounting around the World, organizado por Alan Auerbach, Larry Kotlikoff e Willi Leibfritz,Chicago: University of Chicago Press para o NBER, 1999, pp.471-488.
    &"Portugal e a União Monetária Europeu: ganhar credibilidade externa vender estabilidade internamente", Análise Social, 138, vol. XXI 1996, 4º pp. 895-924 (resumo)
    &Forum Portugal Global, A internacionalização das empresas portuguesas

    5. Um sistema monetário internacional trilateral? (23 Junho)
    *Paul Krugman, "The hangover theory", The Dismal Science
    *"Relações monetárias entre a zona do euro e os Estados-membros", in Aspectos Jurídicos e Económicos da Introdução do Euro, Lisboa: Faculdade de Direito, 1999, pp. 55-62.
    *Paul Krugman, "Is the economic crisis a crisis for economics?", The Dismal Science
    Paul Krugman, "Bahtulism. Who Poisoned Asia's Currency Markets? ", The Accidental Theorist, pp.146-152.
    Safeguarding Prosperity in a Global Financial System: The Future International Financial Architecture, Council on Foreign Relations, October 1999
    "Financial Crises: a Eurocentric perception", a saír em What financial system for the year 2000?, Lisboa: ISEG.
    "Corporate governance and sound business practices.", EBRD
    Paul Krugman, "The East is in the Red: A Balanced View of China's Trade", The Accidental Theorist, pp.87-96.
    &Paul Krugman, Monomoney Mania, Slate, 15 Abril 1999
    &Paul Krugman, "Making the World Safe for George Soros", The Accidental Theorist, pp.153-162.
    &Paul Krugman, "Capital Control Freaks", The Dismal Science
    &Paul Krugman, "The Tequila Effect", The Accidental Theorist, pp.191-195.
    &Paul Krugman, "What is Wrong with Japan", The Accidental Theorist, pp.123-126.
    &Paul Krugman, "The Myth of Asia's Miracle", Pop Internationalism, pp.167-188.
    &Paul Krugman, "Time on the Cross: can fiscal stimulus save Japan?".
    &Paul Krugman, "Seeking the Rules of the Waves", The Accidental Theorist, pp.127-134.
    &Paul Krugman, "Gold bug variations: Understanding the Right-Wing Gilt Trip", The Accidental Theorist, pp.66-70.
    &Paul Krugman, "Taxes and Traffic Jams", The Accidental Theorist, pp.173-178.
    &Paul Krugman, "Looking Backward", The Accidental Theorist, pp.196-204.
    &Global Financial Turmoil and Reform: A United Nations Perspective, organizado por Barry Herman, Tokyo: The United Nations University Press, 1999.
    &Macroeconomic policy and institutions in the transition towards EU membership, NBER Working Paper nº 6555, Julho de 1998.