Economia Suave
Jorge Braga de Macedo
Número 28
Como se estivesse numa função social em
Manhattan, Luís Cabral confessou no Beato “eu sou mais números”. Queria demonstrar
a centenas de gestores como a concorrência aumenta a produtividade num sector
com duas empresas através de um quadro com duas colunas, antes e depois de eliminar
certa distorção. A produtividade de cada uma das empresas aumenta um pouco na
coluna “depois” mas, em virtude da concorrência, a quota de mercado da empresa
mais produtiva aumenta tanto que salta a produtividade média do sector. Não é
magia, são números, conclui.
O argumento aplica-se ao impacto do
associativismo empresarial na sociedade portuguesa, abafado pela pulverização
regional e sectorial. Aumentar a cooperação baseada no conhecimento tem impacto
equivalente ao da concorrência na produtividade mas exige uma mudança
institucional. Essa mudança tem o número 28.
Não é magia, é uma lista de 30 propostas retiradas
das exposições apresentadas na convenção do Beato e publicadas em www.compromissoportugal.com.
Porque é um objectivo desta lista de medidas concretas suscitar reacções por
parte do público, cada uma vem sob forma de pergunta. Citando a número 28, deve
o não promover-se a constituição duma entidade de cúpula do mundo empresarial,
na qual as actuais confederações deleguem a representatividade geral do mundo
empresarial, incluindo em sede de concertação social, e que coordene os
principais projectos do associativismo empresarial com o suporte dum gabinete
de estudos próprio?
Se os empresários não falam a
uma só voz, pode contra
argumentar-se, não há cúpula que os consiga forçar. Mas se a cúpula aumentar
a base de conhecimento disponível para as empresas, atenuará as consequências da
pulverização regional e sectorial do associativismo, melhorando a comunicação
de posições comuns e criando incentivos a que os gestores tenham posições institucionalmente credíveis acerca das
políticas que afectam as suas empresas.
A escola dos custos de transacções
políticos reabilitou as instituições (cuja importância para o desenvolvimento
Avelino Crespo aqui recordou na semana passada). E mostra que a proposta número
28 visa reduzir custos de cooperação inter temporal. Em Portugal estes são tão
elevados que as empresas preferem estar sós em vez de se acompanharem
mutuamente à escala nacional – para não falar já na europeia ou lusófona.
Mariano Tommasi, um impulsionador daquela escola
desvaloriza as políticas escrevendo “são as instituições, estúpido!” - parafraseando
o que o então governador do Arkansas pensava do efeito da economia nas eleições
presidenciais americanas que se aproximavam. Assim, a falta de cooperação futura
corrompe a concorrência presente porque não sustenta os efeitos benéficos desta.
Como as empresas têm um horizonte que
tende a ultrapassar o ciclo vital dos trabalhadores, a falta de cooperação
inter temporal tem efeitos mais nocivos no investimento (que permite o consumo
futuro) do que no consumo presente. Prejudica as gerações que não votam nas
próximas eleições.
Voltando aos
números, são de avaliar os custos da “cacofonia empresarial”. Na sequência duma
reunião no Porto onde jovens empresários explicaram como se gere a globalização
a partir da periferia, o Fórum Portugal Global (formado por empresas que apoiam
a internacionalização) decidiu identificar esses custos em 2004.
Entretanto, o 28 projecta as empresas no bem
comum dos portugueses. Ele há números que viram instituições.