Economia
Suave
Jorge Braga de Macedo
Antevendo mais economia
Com Avelino Crespo, tentámos escorar o bem comum dos portugueses num quadro
competitivo global em que a economia americana financiou os seus desequilíbrios
junto dos gigantes emergentes (BRICs), ao passo que
se valorizava o jovem euro e estagnava a igualmente jovem União Africana. Aqui surfámos a onda dos BRICs e
promovemos o Conselho Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,
sob presidência inaugural angolana.
Como aqui disse, há um ano a esperança dos
portugueses dependia de não ficarem prisioneiros do tempo e do espaço, com medo
da ordem na cidade e das liberdades que a sustentam. Há que reconhecer que
prisioneiros ficaram. Gorou-se a esperança na lusofonia
global quando passavam trinta anos sobre os capitães de Abril.
Uso várias destas crónicas no contributo para o
volume comemorativo recém-publicado por António Costa Pinto. Aí argumento que a
revolução de 1974 continua a marcar a nossa cultura económica, e que só o não
fará daqui a trinta anos se entretanto aprendermos a exportar.
Por causa das sucessivas revoluções, a sociedade
habituou-se a desconfiar mais do poder político do que de interesses instalados
que conseguem controlar em seu favor uma constituição fiscal deixada quase
intacta no fim das guerras civis (que recorda uma avenida 24 de Julho). E a
administração pública não pode melhorar sem reformas tão complexas quanto
incompletas no domínio da fiscalidade e dos procedimentos orçamentais.
Por causa da constituição fiscal, a diminuição
espectacular dos juros permitida pela estabilidade e convertibilidade cambiais
foi mais do que compensada pela subida sistemática das despesas primárias em
percentagem do PIB. Em suma, beneficiaram dos fundos europeus grupos públicos
ou privados cuja voracidade travou as reformas estruturais de que precisavam as
classes médias. Esta voracidade continua a ameaçar a poupança que as famílias
querem realizar ao longo do ciclo vital. Este ciclo, com mais eleições e menos mudança,
perpetua aquela voracidade.