Jorge Braga de Macedo
As pessoas tidas por
mais influentes na esfera política, económica e/ou social passaram esta semana por
Davos e/ou Bombaím. Aí debateram o futuro de um mundo em que o potencial de
crescimento das grandes economias emergentes ameaça o predomínio das mais
desenvolvidas. Ora, graças à influência discreta de comunidades plurinacionais,
podem beneficiar deste processo economias intermédias como a nossa.
O crescimento do produto
interno bruto depende do valor acrescentado no território nacional no presente.
Mas também precisa de instituições capazes de promover o desenvolvimento
sustentado no futuro.
Um grande banco
americano quis responder à pergunta “quais os maiores pibs em dólares em 2050?”
sob o título “Sonhando com Brics”, das iniciais de Brasil, Rússia, India e
China. Entretanto, sob presidência rotativa da França, Estados Unidos, Reino
Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá, reúnem anualmente desde 1975 os
líderes das sete economias tidas por mais desenvolvidas.
A União Europeia também
participa, mas não preside, a despeito de os quatro membros europeus (cujo pib
representa cerca de dois terços do total da UE) partilharem um mercado único. Apesar
de nem sempre ser capaz de falar a uma só voz, a influência europeia aumentou
em cada um dos cinco ciclos de presidência do grupo dos sete. Culminando uma
aproximação gradual iniciada como União Soviética, a Rússia irá presidir
durante o ciclo que termina em 2010.
Continua a participação
informal de não-membros, nomeadamente africanos, continua e poderá até
reforçar-se caso avance a reforma das Nações Unidas e das instituições financeiras
internacionais.
Nas economias emergentes
as instituições são bem diversas, e duvida-se menos das elevadas taxas de
crescimento do pib do que da coerência das suas instituições para o
desenvolvimento sustentado.
Mesmo no sonho dos
Brics, o pib europeu estaria tão próximo do indiano como o americano do chinês.
Por isso, sem ofensa para a peça, que teve direito a várias referências
elogiosas (do “Financial Times” de 7 de Outubro ao “Figaro” de 22 de Dezembro),
o sonho dos Brics lembra um album de rock antigo cuja flauta fazia sonhar, “Thick
as a brick” (espesso como um tijolo).
Espesso porque, além do
pib total, há o pib por cabeça, que nos Brics continua muito mais baixo, há as
instituições, fragilizadas por sucessivas revoluções, há as culturas sem
mercado e/ou sem democracia. Ainda hoje faz mais sentido falar de mercado
interno – e de pib- europeu do que chinês.
Espesso porque há poucos
anos se previa que o pib da China chegaria à paridade com o dos Estados Unidos
em 2015, bastando para tal a medi-lo em dólares com o mesmo poder de compra.
Enquanto o pib americano actual se mantém nos 10 triliões de dólares, o chinês
passa para 4 triliões de dólares em paridade de poderes de compra. No sonho multiplica-se
por quatro a taxa de câmbio do yuan relativamente ao dólar em 2050, o que atrasa
a paridade mas é igualmente espesso.
Sonhar com Brics, quer
venham ou não, potencia as comunidades plurinacionais, europeia e lusófona, em
que nos inserimos, aproveitando ainda familiaridades ancestrais no sul da China
e da Índia. Mas o sonho exige políticas que promovam a liberdade política e
financeira dos portugueses, ou seja a liberdade das gerações presentes e
futuras.