Economia
Suave
Lisboa em
Istanbul, ou vice-versa
Jorge
Braga de Macedo
Um grupo de empresários
e profissionais criou o Forum Istanbul com o objectivo de preparar o
centenário da República turca em 2023 e, para não haver dúvidas, um dos
organizadores descreveu como “a maior cidade europeia” a metrópole de doze
milhões de habitantes onde o Forum reuniu há dias pela terceira vez.
Depois do Primeiro Ministro
Recep Erdogan e do Ministro de Estado Ali Babacan (encarregado da Economia)
demonstrarem que a Turquia estava no bom caminho, marcou presença no Forum a
directora interina do Fundo, Anne Krueger. Ela reforçou a necessidade expressa
pelos governantes de ultrapassar a alternância entre
austeridade e exuberância que caracterizou os últimos trinta anos, agora que
a taxa de inflação baixou para 10 %, quase a um dígito!
Dentro da diversidade
europeia, coube-me resumir para uma audiência
interessada em vencer antes de 2023 os desafios gémeos da prosperidade e
da democracia reformas estruturais iniciadas há 15 anos no extremo ocidental do
continente.
Para partilhar uma ideia
da Europa que possa ter eco nas duas periferias tentei explicar como
ultrapassar a mesma necessidade de ultrapassar a alternância entre austeridade
e exuberância.
Trata-se de combinar o
elemento técnico inseparável da estabilização macro económica com o elemento
social exigido pelo sufrágio universal. Assim, durante a nossa primeira presidência do conselho europeu em 1992, a decisão de aderir
ao mecanismo cambial do Sistema Monetário Europeu seguiu-se a um acordo de
concertação social assente no objectivo de inflação a um dígito e foi seguida por
um orçamento compatível, inserido no programa de
convergência aprovado logo após as eleições.
Mas não me limitei a
evocar a presidência portuguesa da Cavaco Silva, também falei da estratégia de crescimento
acordada em 2000, a qual visava transformar a economia europeia na mais
competitiva do mundo em 10 anos. Aproxima-se a avaliação de meio tempo e um
recente Relatório da Comissão ao Conselho – simplesmente intitulado “entregando
Lisboa” – descreve um triste fado europeu em contraste com o corridinho
americano e asiático.
Quiçá, seguindo o
exemplo do Forum Istanbul, pudessemos combinar em Lisboa a avaliação final da estratégia do mesmo nome com o primeiro
centenário da nossa própria República, já que, não desfazendo nas raízes
tripeiras do movimento republicano, o 5 de Outubro é medularmente alfacinha.