Economia Suave
Fartote latino
Jorge Braga de Macedo
Num mundo de constantes comparações numéricas, o crescimento chinês (9%), russo (7%) e indiano (6%) convida logo a perguntar pelo Brasil.
Com 4% em 2004 (tudo dados do FMI), o país irmão tornou-se (finalmente!) vanguarda de crescimento baseado nas exportações na América Latina e pelas melhores razões, nomeadamente a notável consolidação das finanças públicas permitida pela chamada “lei de responsabilidade fiscal”, que Fernando Henrique Cardoso apresentou em 2000 e o presidente Lula assumiu.
Até Teresa ter Minassian (“homem sem rosto do FMI” em Portugal há vinte anos que deixou saudades) reconheceu o bom exemplo brasileiro num seminário sobre ajustamento orçamental na América Latina realizado na semana passada na OCDE.
Bom exemplo de que os latinos bem
precisam. É que, argumentou na mesma ocasião Mario Blejer (ex-FMI e ex-governador do
banco central argentino, que migrou para o Banco de Inglaterra), a América
latina está sujeita a políticas populistas que até podem ameaçar a democracia.
Lembrando o atraso da competitividade latino-americana relativamente à dos
novos membros da U. E., advogou indemnizações para os grupos que perdem com as
reformas.
Quase nos convenceu de que os latinos
estavam fartos de reformas. E não sabia que, na sua última coluna, Avelino
Crespo alargara o fartote para além da latinidade.
Chamado a reflectir a evolução lusa naquele seminário perante a directora de rating soberano
da Standard & Poor’s, vi na boa governação
política e económica remédio para o fartote – latino e não só.
A governação melhora com a globalização e
também com a pressão de instituições regionais, como a União Europeia, o que,
vai para dez anos, motivou a criação do Mercosul.
Espanha e Portugal vêm tentando favorecer a conclusão do acordo comercial e
político Mercosul- U. E.,
que não chegou a ser concluído na Ministerial realizada em Lisboa em fins de
Outubro.
A iniciativa luso-espanhola não foi
suficiente para desbloquear as negociações relativas à agricultura, aos
produtos sanitários e fitosanitários.
Porém, logo se criou em Madrid um Fórum
empresarial ibero-americano presidido por Miguel Sebastián
(ex- BBVA, assessor económico do presidente do
governo) no qual os líderes das grandes multinacionais espanholas podem propor
soluções de partilha do risco ao governo. Iniciativa que mereceu destaque na
imprensa espanhola (El País 10 de
Novembro) e que deveria ser seguida pelo Conselho Empresarial da CPLP,
motivando parcerias público-privadas lusófonas.
A actual orientação do Brasil para
mercados emergentes como a China e a Índia coincidiu com a consolidação das
finanças públicas, e conferiu maior credibilidade à política económica externa
da administração Lula. No âmbito da CPLP, do Fórum sino-lusófono
de Macau e da Cimeira Ibero-americana, Portugal pode beneficiar dessa
orientação.
O Fórum Brasil, realizado há dias em
Lisboa, sensibilizou as empresas portuguesas para o potencial daquela política
económica externa. Ouvimos que as espanholas já estão sensibilizadas e querem
soluções, nomeadamente proteger os seus investimentos.
É assim que, atenuando o fartote latino e
abrindo o mercado europeu, se vai construindo a lusofonia
global.