Desenvolvimento e História

Jorge Braga de Macedo

DN 21 Ago 06

Realizou-se há cerca de um mês em Bissau a VI cimeira da CPLP, na qual se comemorou o décimo aniversário da organização. Entre outras decisões, nomeadamente relativas a associar estados como a Guiné Equatorial e as Maurícias (descobertas ambas por navegadores portugueses), a cimeira aprovou uma declaração sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Foi ainda entregue um álbum editado pelo IICT com gravuras sobre as cidades do oito Estados comentadas por um diplomata caboverdiano. O álbum foi apresentado no programa Expresso da meia noite e exposto no Ministério da Educação brasileiro. Podemos assim chamar Desenvolvimento e História ao espírito de Bissau, renascido quase vinte anos depois do encontro entre os presidentes Ramalho Eanes e Agostinho Neto!

Desenvolvimento e História reforçam o “conhecimento mútuo” referido na declaração de Bissau sobre ODM. Para marcar as consequências positivas de tal conhecimento ao nível da qualidade das políticas nos países desenvolvidos, o Embaixador Fernando Neves, dias antes de trocar Luanda por Dublin, realizou um seminário intitulado Desenvolvimento em português visando comparar as perspectivas das organizações de Bretton-Woods, da OCDE e da UE acerca do desenvolvimento lusófono – com especial atenção para Angola. Passados dois anos, a cimeira quer aumentar o conhecimento mútuo dos países da CPLP. Para o conseguir, precisa da História, de memórias comuns que a escorem - de política e de desenvolvimento económico.

Dizer que as relações entre história e memória passam pela política e pelo desenvolvimento económico é outro modo de perspectivar o futuro, porventura menos concreto do que o apelo ao conhecimento mútuo, mas igualmente legítimo, em especial numa comunidade baseada na mesma língua e na amizade mútua dos povos que a falam e escrevem, como é a CPLP. Mas a intromissão da política perturba os historiadores que receiam tornar-se escravos da actualidade.

Receio bem actual: basta pensar nas “leis memorialistas” francesas, (acerca do holocausto, do genocídio arménio, do tráfego de escravos, etc.), nos exemplos doméstico e espanhol ou ainda nas visitas do primeiro-ministro japonês ao santuário de Yasukuni. Para conseguir repor o equilíbrio entre diferentes visões do passado “é preciso saber ter memória!”, como se recorda numa publicação recente do Instituto Diplomático, intitulada Jorge Borges de Macedo Saber Continuar.

Felizmente, no único laboratório de Estado onde investigam cientistas sociais apareceram a propósito da consulta pública do mês de Julho vários artigos sobre o património e a investigação do passado dos países da CPLP (entre os quais uma versão mais longa deste). Estão disponíveis em www.iict.pt, clicando em Concorda com as recomendações feitas ao IICT?