Saudades
de Maastricht
Jorge Braga de Macedo
22 de Janeiro de 2007
Em finais do ano passado, recebi no Instituto
de Investigação Científica Tropical uma carta de Maastricht, na qual o
presidente da câmara municipal convidava os signatários do Tratado da União
Europeia para comemorar o 15º aniversário da assinatura, em 7 de Fevereiro de
1992.
A propósito deste inesperado presente
holandês, recordo que, num gesto típico do “bom aluno” europeu que queria ser
durante a sua primeira presidência do Conselho de Ministros, o governo português
prescindiu de assinar o tratado em território nacional. Esta homenagem ao
esforço da presidência holandesa justificava-se pelo sucesso do Conselho
Europeu de Maastricht, onde - pela primeira vez - tiveram assento os protagonistas
da transição para a união monetária, que formavam o conselho ECOFIN.
Graças a uma oportuna comemoração dos 20 anos
de integração europeia no Instituto de Ciências Sociais (na qual falei sobre “A
moeda única e o Pacto de Estabilidade e Crescimento”), recebi a carta de
Maastricht quando escrevia sobre outros 15os aniversários antes e depois de
Maastricht. Logo antes do conselho, a aprovação do programa de convergência Q2 pelo
ECOFIN, logo depois da assinatura, a discussão e votação na Assembleia da
República do Orçamento que concretizava as políticas estruturais e financeiras
complementares constantes do Q2.
Mas o 15º aniversário que prefiro foi o mais
espectacular: a mudança de regime cambial com a entrada do escudo no mecanismo
cambial do Sistema Monetário Europeu em 4 de Abril de 1992. Mudança de regime
que não era esperada e cuja credibilidade externa foi logo posta à prova por
reflexo da grande turbulência que durou até Agosto de 1993.
Vários papers académicos demonstram
essa credibilidade, por último em relação com a divisa espanhola. Aliás, co-apresentei
há dias no seminário INOVA da Faculdade de Economia uma decorrência da mesma abordagem
que é o teste da credibilidade da fixação da divisa de Cabo Verde ao euro. Demonstro
com Luís Brites Pereira que o escudo caboverdiano tem credibilidade sem ter
rigidez. Tal como o escudo português entre Abril de 1992 e Maio de 1998, quando
foi escolhido para entrar no eurosistema.
Maior do que saudade de Maastricht é a
consciência (quinze anos e quase outros tantos papers depois) de que a mudança do regime cambial, necessária para
entrar no euro, não foi suficiente para sustentar um processo de convergência
nominal que exigia mais capital humano e moderação salarial para não perder
competitividade.
Consciência próxima da experiência vivida por
cada um de nós: nos últimos cinco anos, a convergência sonhada deu lugar à
divergência sofrida.
Em vésperas da terceira presidência do
Conselho de Ministros, com uma União de 27 membros e sem bons alunos, que
europeu não tem saudades de Maastricht?