PREFÁCIO DA 2ª EDIÇÃO

Esgotada em pouco mais de um mês a 1ª edição, não nos parece possível proceder a grandes alterações. Limitamo-nos pois a introduzir excertos de recensões que nos chegaram depois de pronta a capa e uma lista de referências úteis.

A apresentação na Academia das Ciências de Lisboa*, o empenho dos alunos que vinham lendo as sucessivas versões disponíveis na internet e o entusiasmo do editor contribuíram decerto para o ritmo das vendas. A todos agradecemos, bem como aos jornalistas pelo eco que deram ao "manifesto de universitários".

O interesse das pessoas em redescobrir a identidade nacional através do conceito de bem comum tal como o propomos. tem para nós, uma explicação. O bem comum é uma ideia clássica. Radica no mais profundo da nossa tradição aristotélico-tomista, e foi retomada pelo civismo liberal, pelo sonho republicano e pela democracia pluralista.

Bem comum que sintetiza as ideias de ordem e de justiça, sem as quais se desenraízam as liberdades e se compromete o futuro. O nosso testemunho revela confiança na capacidade dos portugueses enfrentarem a globalização económica em sociedade aberta e democracia pluralista; mas também realça a quebra do ciclo vital e a hipoteca das liberdades futuras. Urge, com efeito, que a governação não caia na tentação da pilotagem automática, sob pena de não mobilizarmos os factores de poder nacional, que são as nossas pertenças.

É um lugar comum dizer que, se não se efectuarem reformas da saúde, ensino, segurança social e sistema fiscal, Portugal arrisca-se a perder a credibilidade acumulada nos últimos dez anos, e a ser ultrapassado por mercados emergentes europeus como a Polónia ou a Hungria.

Nós chamamos a isso o "esticão" do euro e receamos que, como já sucedeu várias vezes na nossa história, os portugueses estejam hoje "perplexos como quem pensou e achou e esqueceu". Todos reconhecemos o verso de Fernando Pessoa. Pessoa cujo "oásis no incerto" já inspirou um de nós e aparece agora aplicado à zona do euro.  A euroconfiança que revelam as declarações do Verão passado do Presidente do Banco Central Europeu  tornam-no cúmplice, sem o saber, do abraço armilar que este livro suporta. Mas para nós euro sem esticão só na lusolândia...

Verão de 1999
*Ocorre lembrar o que aí foi dito por ocasião da comemoração de oito séculos de independência nacional: "A história de Portugal prova bem que os portugueses, entre outras características de persistência e trabalho, sempre tiveram a capacidade, que a bula papal reconheceu, de usar a independência política em defesa do bem comum." Jorge Borges de Macedo, Constantes da História Portuguesa, in  Portugal Um estado de direito com oitocentos anos Bula Manifestis probatum de 23 de Maio de 1979, Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1981, p. 45-46.