MILTON FRIEDMAN Conservador, liberal, e polémico
Por Ana Taborda
 
 
 
"Um dos maiores economistas, não do século XX, mas de sempre." É assim que
João César das Neves, professor de economia da Universidade Católica,
define Milton Friedman. "O seu contributo foi decisivo em várias áreas e
ainda hoje influencia as políticas dos bancos centrais," acrescenta. O
prémio Nobel da economia morreu no passado dia 16 num hospital de São
Francisco, aos 94 anos, vítima de insuficiência cardíaca.
Milton Friedman nasceu em Nova Iorque, em 1912 e concluiu a licenciatura
em economia, na universidade de Rutgers, com apenas 20 anos. A partir daí,
o seu percurso estaria inevitavelmente ligado à economia e ao ensino:
doutorou-se em 1946, na universidade de Columbia, em Nova Iorque, mas
desenvolveu a sua carreira académica em Chicago, onde leccionou entre 1946
e 1976, tendo publicado inúmeras obras sobre política e história
económica.
Para Jorge Braga de Macedo, professor de economia da Universidade Nova,
Milton Friedman teve três grandes contributos: a defesa da ligação entre
regime cambial e política monetária, que o levou a advogar os câmbios
flexíveis como forma de preservar a soberania monetária nacional, o
reconhecimento da importância do rendimento permanente para a
sustentabilidade dos sistemas de Segurança Social e, "talvez o mais
determinante do ponto de vista científico, a crítica à sustentabilidade da
curva de Philips, que estabelece uma relação inversa entre inflação e
desemprego," explica Braga de Macedo. Para Friedman era já claro que uma
elevada taxa de desemprego podia ser acompanhada por uma inflação também
ela elevada, uma ideia que foi desenvolvida pelo prémio Nobel da economia
deste ano, Edmund Phelps.
A doutrina económica de Friedman foi seguida por vários governos,
nomeadamente pela antiga primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher e
pelo ex-presidente norte-americano Ronald Regan. Controverso pelas suas
posições conservadoras, Friedman era um feroz defensor de que "não se
podia pensar em liberdade económica sem liberdade política," explica
Miguel Beleza, ex-ministro das finanças. A sua carreira seria, ainda,
marcada por uma série de estudos relativos aos consumo e pelo
desenvolvimento do conceito da taxa natural de desemprego. Após a
atribuição do Nobel, em 1976, tornou-se mentor do Instituto Hoover da
universidade de Stanford, na Califórnia. Foi, também, colunista da revista
semanal Newsweek e membro do departamento nacional de pesquisas económicas
(EEUU).
Também "a coluna Mão Invisível, que com outros colegas da Faculdade de
Economia da Nova escrevemos há 20 anos, criticava a intervenção excessiva
do Estado em Portugal, o que nos levou a ser apelidados de Chicago Boys,
apesar de nenhum de nós ter estudado lá," explica Braga de Macedo. "Que
este nosso modesto contributo seja hoje usado como homenagem a um gigante
da economia que não se importava de ser polémico."
 
A Escola de Chicago e o Monetarismo
Friedman foi um dos fundadores da Escola de Chicago, um grupo informal de
economistas provenientes do departamento de economia da universidade de
Chicago, que "defendia a redução do peso do Estado na economia e
acreditava que a livre actuação das pessoas e dos mercados faria com que a
economia se desenvolvesse," explica Jorge Santos, professor de economia do
ISEG. Para esta corrente, o melhor governo é aquele que governa menos
cabendo-lhe, sobretudo, controlar a oferta de dinheiro e criar condições
para o correcto funcionamento do mercado. Friedman desenvolveu, também, a
teoria do monetarismo, que sublinha a importância do controle da emissão
de moeda, e não de políticas fiscais, para combater a elevada inflação.
Celebrizada pela defesa do liberalismo económico na sua forma mais pura, a
Escola de Chicago viria a estar envolvida em polémica, quando alguns dos
seus docentes, incluindo Friedman, foram conselheiros económicos da
ditadura chilena de Augusto Pinochet.
 
4 OBRAS DE REFERÊNCIA
 
Capitalism and Freedom
Editora: University of Chicago Press
Preço: 11,7 ?
No seu mais famoso livro, publicado em plena Guerra Fria (1962), Friedman
defende que a liberdade económica é uma condição essencial para a
liberdade política e social, e advoga a redução do peso do Estado nos
mercados livres.
 
Free to choose: a personal statement
Editora: Harcourt
Preço: 7 ?
Friedman acredita que a liberdade e a prosperidade individuais não devem
ser condicionadas por normas e verbas governamentais, nem ser sujeitas a
um controlo económico por parte do Estado.
 
A Monetary History of the United States
Editora: Princeton University Press
Preço: 36 ?
Neste livro, Friedman defende que, ao contrário da tese dominante, a
Grande Depressão não resultou de uma falha no mercado, mas de uma política
governamental desadequada.
 
A Theory of the Consumption Function
Editora: Princeton University Press
Preço: 50,7 ?
O consumo individual não é determinado unicamente pelos rendimentos
actuais, nem pelos estímulos do Governo. Envolve, também, as expectativas
das pessoas em relação aos seus rendimentos futuros.