Custos da cacofonia
empresarial
Portugal precisa de renovar os seus líderes
associativos. Precisa também de singularizar a voz das associações
empresariais, para evitar uma dispendiosa cacofonia empresarial e política. E
de participar em circuitos de informação, conhecimento e contactos - networks -, factor decisivo da
competitividade das empresas portuguesas. As afirmações precedentes são o
corolário da recente reunião do Grupo Europeu da Comissão Trilateral, que
decorreu no Porto. Fundada em 1973 por David Rockefeller,
a Trilateral integra personalidades do mais alto nível: empresários,
presidentes de empresas, políticos não executivos, académicos, jornalistas,
etc. A reunião do Porto foi um grande desafio, já que à periferia nacional se
somava a do Norte face à capital. Mas o Fórum Portugal Global (Fórum), que
entre nós coordena a participação na Trilateral, aceitou o desafio e entregou a
organização à dr.ª Estela Barbot,
minha colega em ambas as instituições e empresária de sucesso do Porto,
assegurando-lhe todo o apoio. Definimos então definidos dois pressupostos
básicos: - Valorizar a participação portuguesa através da dimensão empresarial.
- Profissionalizar as componentes da organização, com destaque para a
comunicação, interna e externa. No primeiro caso, rompia-se com uma tradição consolidada.
O país anfitrião tem a possibilidade de «se apresentar», em geral através de
intervenções sobre os grandes equilíbrios macroeconómicos. Optámos por outro
modelo. Convidámos empresários da nova geração para apresentar a sua
experiência, em particular no domínio da internacionalização, inovação e
reconversão num painel intitulado Gerir a globalização a partir da periferia. A intervenção macroeconómica do primeiro-ministro, Durão Barroso,
enquadrou de modo perfeito a apresentação portuguesa. CEO's
de indústrias de matriz tradicional, como a Sogrape e
o Grupo Amorim, surpreenderam os membros - pouco
atreitos a surpresas - graças a novas aplicações e promoções agressivas de
produtos como o vinho e a cortiça. Diversa mas igualmente eficaz foi a intervenção
do CEO da Logoplaste, exemplo de capacidade
empresarial e competitividade global. Fluentes em inglês, motivados e jovens,
estes empresários tiveram um discurso coerente e completaram-se, sem cacofonia
nem sobreposições - conscientes os três da importância
do uso da investigação. Os membros da Trilateral reconheceram o sucesso, que
nos prestigia. Semente de network, estão
agora «abertas as portas» para o reforço da influência nacional. Tirámos as
ilações devidas: os empresários, gestores e governantes portugueses devem
apresentar ao mundo uma face renovada, de quem sabe inserir-se no mercado
global, sem complexos de periferia - como os três
casos do painel empresarial. Foi nesse sentido a tomada de posição de Diogo Vaz
Guedes, outro dirigente do Fórum presente no Porto. Os empresários, gestores e
governantes portugueses têm, mais do que sucede - e
sucede pouco -, de concertar posições, de determinar e defender patamares
mínimos de interesse nacional, aquilo a que já chamei de «bem comum dos
portugueses» numa combinação harmoniosa de liberdades e pertenças. O segundo
objectivo, a profissionalização das envolventes e em particular da comunicação,
era também difícil. A Comissão Trilateral tem, senão a tradição pelo menos a
fama, de secretismo. É acusada de ser um «Governo mundial», uma «sociedade
secreta», «Davos sem os media» -
quando é uma rede de pessoas que debatem a actualidade para além do curto prazo
dos «ciclos eleitorais». Tratam de construir pontes para o futuro sem
compromissos excessivos com os pressupostos da governação sur place ou das
agendas mediáticas. Claro que os membros da Trilateral são influentes, caso contrário as suas conclusões seriam um mero exercício
retórico. Tal influência permite-lhes agir sobre os poderes públicos
respectivos a benefício da comunidade internacional e do seu desenvolvimento
sustentado. As reuniões são à porta fechada? Sem dúvida. A Trilateral preserva
a privacidade para evitar os efeitos nefastos dos debates à luz dos holofotes,
em que as mensagens se transformam em sound-bytes e os
destinatários são as audiências de cada um. O desafio era pois complexo:
explicar o trabalho da organização, com transparência, sem alterar a sua
natureza. Para o lograr, envolvemos uma empresa de comunicação internacional
especializada. Os resultados foram excelentes, pois os debates decorreram com
tranquilidade e os membros expressaram-se livremente, enquanto a imprensa fazia
eco abundante dos trabalhos com uma mensagem nova sobre a Trilateral. Também
neste caso tirámos conclusões: profissionalizar sempre que possível, agir estrategicamente e ter atenção à comunicação e às
mensagens. No rescaldo do Porto, o Fórum faz um balanço positivo: há condições
para triunfar, pois são cada vez mais os portugueses, empresários ou não, que
não se sentem periféricos e agem em conformidade. Claro que compreendemos os
que continuam a sentir o contrário. Têm as suas razões. Quase todas são
corrigíveis. O mundo contemporâneo, da economia e dos Governos, das pessoas e
das instituições, é interdependente, baseado em redes de informação, comunicação
e contactos, o network. Networking
tornou-se indispensável.
Os portugueses, empresários, gestores ou políticos,
habituados a ver o mundo de fora, tendem a deixar-se ficar de fora. É um erro.
Participar, aceder às fontes e integrar redes, depende apenas de organização e
empenho. E é essencial. O Fórum, constituído por grupos empresariais nacionais
com dimensão e forte componente externa, dispõe-se a agir na sensibilização dos
poderes públicos, dos empresários, dos gestores e dos cidadãos, participando
activamente na organização indispensável, em prol do bem comum e contra o
desconcerto e a cacofonia, documentando os respectivos custos e propondo
soluções realistas. Em conclusão: 1. Importa que surjam em Portugal líderes associativos
oriundos das novas gerações, capazes de ultrapassar velhas e anquilosadas divergências e de falar em uníssono, sempre
que isso sirva o interesse nacional e das empresas. Só assim serão contrariados
os custos da cacofonia empresarial e política. Propomo-nos promover um estudo
que fundamente as conclusões apresentadas com base no exemplo da Trilateral. 2. Urge contrariar
a tendência atávica para o amadorismo e o improviso. Entendemos que as
intervenções profissionais devem estender-se a todos os aspectos das
organizações, sem excepções nem compromisso. 3. Finalmente, salientamos a necessidade
de desenvolver conceitos adequados de network, formais e
informais, nacionais e internacionais, operacionalizáveis.
O Fórum Portugal Global, em acção própria e através dos seus membros, assume o
compromisso, em estreita sintonia com todos os interessados no processo, de
desenvolver uma actividade específica cujo objectivo sejam os três pontos acima
referidos.